Causa animal ganha campanha de candidatos; ONG faz alerta

Por Renan Marra

Ele olha a fotografia de candidatos e os rejeita tapando os olhos. Até que surge o rosto de um político conhecido que conquista o apoio do… cachorro! A cena foi mostrada durante a campanha do candidato à Prefeitura de Fortaleza, Célio Studart (PV). Com a ajuda de um locutor, o animal ganhou voz para garantir votos ao candidato.

Na peça, fotografias dos concorrentes são mostradas ao eleitor de patas: “A loura? Pelo amor de Deus, não dou a minha pata não. Sai daqui. Esse daí? Não dou a minha pata não, viu? Ô bicho feio. Ô diabo podre. Passa para outro. […] Opa! Esse aqui é o meu prefeito! Para esse eu dou a patinha”.

A causa animal aparece como plataforma política de Studart, que ao longo da campanha questionou e criticou adversários que publicaram fotos segurando os bichos ou se apresentaram como defensores dos pets.

Os brasileiros estão cada vez mais simpáticos aos animais e tirando os bichos do quintal para dentro de casa. Segundo o IBGE, o Brasil já tem mais cães e gatos em casa do que crianças. Dados de 2018 mostram a presença de 139,3 milhões de pets no país, e seus tutores são eleitores em potencial.

Com isso, o número de candidatos que incluem a causa animal na lista de propostas vem aumentando a cada eleição, segundo Rosângela Ribeiro, gerente de campanhas veterinárias da ONG Proteção Animal Mundial.

Ela alerta, no entanto, que candidatos que não têm histórico de defesa animal devem ser observados com atenção. Segundo Ribeiro, não é incomum aparecerem políticos que tentam fisgar o eleitor simpático à causa apenas para turbinar a campanha.

“Antigamente os políticos tiravam fotos com crianças na periferia para conquistar os eleitores. Hoje vemos nas redes os candidatos com cachorro no colo ou banner com imagens dos animais”, afirma.

No debate realizado no último dia 7, em Fortaleza, o candidato Studart disparou contra o adversário Renato Roseno (PSOL), que defendeu campanhas de conscientização sobre a posse responsável de animais e a criação dos chamados vetmóveis, unidades móveis adaptadas com bloco cirúrgico e que funcionam como clínicas itinerantes para atendimento veterinário de cães e gatos.

“Me responde só uma coisa para a gente saber se você conhece mesmo de animal: quanto que custa a castração de um gato ou cachorro?”, questionou o candidato do PV.

Roseno não conseguiu responder porque Studart fazia a tréplica no debate, mas a discussão se arrastou para além do embate ao vivo. “A castração varia, mas custa em média entre R$ 80 e R$ 400”, escreveu em suas redes sociais o candidato do PSOL.

Em outubro, Roseno publicou foto de um cachorro com uma folha sulfite sobre as patas e a mensagem #Tôcomrenato50.

Outros candidatos à prefeitura cearense também se mostraram simpáticos aos bichinhos e, consequentemente, a seus tutores. A petista Luizianne Lins publicou propostas de governo relacionadas à causa acompanhadas de foto com um gato, vários coraçõeszinhos e também a imagem de um cachorro.

Capitão Wagner (Pros) publicou foto com cachorros e familiares, e Sarto (PDT) postou card com propostas e desenhos de pets.

Em São Paulo, o candidato Celso Russomanno (Republicanos) prometeu “mais hospitais públicos para pets, amiguinhos de quatro patas bem cuidados”, na última semana do programa eleitoral gratuito do rádio e televisão.

Segundo a assessoria do candidato, além dos novos hospitais, Russomanno pretende dar mais eficiência ao programa de castração do município. As propostas não aparecem no plano de governo do deputado. A assessoria do candidato não respondeu questionamentos sobre participação em ONG ou grupos protetores de animais.

Em setembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), padrinho político de Russomanno, assinou lei que aumenta a pena para quem maltratar cães e gatos e prevê prisão para o agressor.

Dos quatro candidatos paulistas mais bem colocados na última pesquisa Datafolha, divulgada na quarta (11), apenas Guilherme Boulos (PSOL) menciona no plano de governo propostas específicas para os animais.

As propostas incluem conscientização sobre bem-estar animal, incentivo às adoções e a proibição da comercialização de animais silvestres. “Assim como todo o plano de governo, as propostas para a área animal foram construídas em diálogo com a sociedade e vêm exatamente deste acúmulo de experiências de grupos que atuam no campo”, diz Josué Rocha, coordenador da campanha.

Já o prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), propagandeou durante a campanha a rede de proteção animal da sua gestão.

“Sempre ouvimos que o cão é o melhor amigo do homem. Mas eu também acho que nós temos que ser amigos deles”, escreveu Covas em um vídeo em que aparece acariciando cachorros e um porquinho em uma praça pública.

Em agosto, a gestão tucana inaugurou na zona sul da capital paulista o terceiro hospital veterinário da cidade. Os outros dois ficam nas zonas norte e leste.

“A perspectiva para a próxima gestão é a de termos o quarto hospital veterinário público na cidade. Nós vamos continuar as ações de castração e de incentivar as pessoas a adotarem os animais abandonados”, afirma o candidato em texto publicado em seu site.

Na hora de escolher o candidato, além de checar o currículo e histórico de propostas, é importante analisar se o discurso político é alinhado às necessidades dos animais da cidade do eleitor, afirma Rosângela Ribeiro, da ONG Proteção Animal Mundial.

Em Fortaleza, por exemplo, ela diz que a cidade sofre com colônias de gatos abandonados nas ruas.

Já em São Paulo, Ribeiro aponta ser preciso implementar políticas públicas, principalmente nas periferias. “A cidade tem um problema grande com abandono nas periferias, onde muitas pessoas não fazem cadastro dos animais nem para castrar. Então os políticos precisam investir na conscientização e agir para descentralizar as castrações”, afirma.

A proliferação de ONGs ou ativistas que publicam conteúdos nas redes sociais fazem com que os eleitores acompanhem o assunto com mais afinco. O apelo é refletido em votações expressivas conquistadas por vereadores que adotam a causa animal.

Em 2012, por exemplo, Roberto Tripoli (PV) foi o campeão de votos em São Paulo. Em 2016, o irmão de Roberto, Reginaldo Tripoli (PV) foi o terceiro mais votado. Ele só ficou atrás dos experientes Eduardo Suplicy (PT) e Milton Leite (DEM).

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