A evolução da medicina veterinária depende de você

Foto: Ludmila Stempniewski

Ter um pet, seja cão ou gato, é uma delícia. Momentos de alegria e de companheirismo. Mas basta algo não estar bem, ele apresentar qualquer sintoma diferente, que ficamos apreensivos. Corremos para o veterinário, para tirar aquela angústia do peludo e buscar a solução para o problema.

Infelizmente, em alguns casos, somente isso não garante a saúde do animal. A medicina veterinária, assim como a humana, tem muitas limitações. Apesar das constantes descobertas e evolução, ainda há muito para entender nos animais. Mas você pode ajudar nessa tarefa!

É comum a prática da necropsia em humanos. Seja para laudo pericial ou mesmo para entender a causa da morte. É através desse procedimento, que muitos médicos podem elucidar o comportamento de uma dada doença ou como o corpo reagiu a ela.

Com os resultados em mãos, é possível entender melhor como funcionam doenças ainda tidas como raras ou pouco estudadas.

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Na veterinária, o procedimento de necropsia é polêmico e pouco aceito entre os tutores. Por isso mesmo, é mais complicado entender doenças raras e pesquisar possíveis tratamentos.

A médica veterinária cardiologista Lilian Petrus, explica que necropsia é realmente um termo estranho. “Quando fazemos este tipo de procedimento é para entender melhor a causa da morte de um paciente. Isso porque, muitas vezes, os exames diagnósticos de rotina não nos trazem as informações necessárias, visto que todos eles têm limitações. Portanto, na possibilidade de fazer o exame necroscópico, conseguimos elucidar os mecanismos de uma doença e utilizar essas informações para outros pacientes” elucida.

Quem pode fazer a necropsia

Há duas formas possíveis de solicitação do procedimento.

  • O próprio tutor pode solicitar. Neste caso é cobrada uma taxa, feito o procedimento e entregue o laudo posteriormente
  • O veterinário solicita. Normalmente, quando o caso está dúbio ou requer análises mais aprofundadas, o próprio médico veterinário pede a necropsia do animal.

No segundo caso, não há um perfil específico para o peludo. A principal característica é fazer parte de um grupo de animais em que a patofisiologia da doença não foi bem esclarecida.

Não há uma clínica especializada neste tipo de procedimento. Caso seja de interesse do tutor ou do veterinário fazê-lo, o animal é encaminhado pelo próprio médico veterinário a um profissional especializados neste tipo de procedimento. Isso fica na dependência do interesse do médico veterinário, ou até mesmo do tutor, em esclarecer o que aconteceu com o paciente.

Caso Pudim

Foto: Ludmila Stempniewski

O vira-lata Pudim, também conhecido como Terremoto, chegou para balançar a estrutura dos seus tutores Ludmila e Benjamim. Foi paixão à primeira vista! Bastou o casal ver a fotinho do pequeno cão, nas redes sociais da Ong, e querer leva-lo para casa.

O que eles não sabiam era que o pequeno Terremoto tinha uma doença congênita (genética) grave. Foi por volta de um ano sua primeira internação. Tudo começou com vômitos e inapetência. Ao perceber que o animal não melhorava, Ludmila e Benjamin levaram o peludo ao hospital veterinário. Lá, descobriram que além de ter engolido algo, ele tinha uma arritmia cardíaca grave.

Após alguns dias em estado grave na UTI, Pudim começou a responder às medicações. Recuperado de todos os problemas, voltou para casa. Mas algo não curou: seu problema cardíaco.

Foto: Ludmila Stempniewski

Quinzenalmente ele frequentava o consultório da cardiologista veterinária. Depois de muitos eletrocardiogramas, ecocardiogramas, roters e diversas medicações, Pudim teve um mal súbito e não resistiu. “Foram quase quatro anos de medicação diária para garantir a saúde do Pudim. Sabíamos que não tinha mais nada a ser feito” lembra Ludmila.

Segundo a veterinária do caso, Dra Lilian Petrus, o Pudim tinha uma arritmia grave, que fez com que ele fosse internado por 2 vezes. Essa arritmia não respondia bem ao tratamento com fármacos anti-arritmicos. Além disso, a causa da arritmia não foi bem estabelecida pelos exames complementares disponíveis.

Foi, então, solicitado aos tutores, a autorização para realização da necropsia. Ludmila sem pestanejar autorizou. “Esse procedimento não vai trazer meu cãozinho de volta, mas pode ajudar outros animais a terem um tratamento mais eficaz” pontua.

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Na necropsia, foi diagnosticada uma doença chamada cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito. É uma infiltração de gordura no tecido muscular cardíaco, mais evidente do lado direito do coração. Essa doença é muito comum, e já bem caracterizada em cães da raça Boxer, como sendo uma doença de origem genética.

“O Pudim era um cão sem raça definida, e que não tinga nenhuma característica física que lembrasse um cão da raça Boxer. E infelizmente, pelas características da doença, a resposta à medicação anti-arritmica realmente é ruim. Portanto, pudemos perceber que essa doença deve ser considerada em todos os casos de arritmia ventricular em cão, principalmente quando uma causa de base não é detectada nos principais exames de rotina” considera Dra Lilian.

O Pudim auxiliou a medicina veterinária a dar mais um passo, a continuar na busca por informações, para melhorar a vida dos nossos peludos.

Por que há tão poucos casos de necropsia?

Randall Pugh/Creative Commons

É comum os tutores terem receio de entregar o seu animal para necropsia. Ludmila não hesitou em aceitar a solicitação da veterinária e estranhou não ser o usual. “Se fosse só para eu saber o motivo da morte, eu não teria feito. Mas como era para estudo, eu não tive dúvida e autorizei no mesmo momento” recorda.

Diante da reação da tutora, a veterinária ligou para agradecer a autorização. “Eu fiquei chocada. Não entendo porque as pessoas não doam os corpos dos seus animais para estudo. O cachorro já morreu mesmo. Pelo menos ele pode ajudar de alguma forma” conta Ludmila.

“Acredito que seja realmente difícil pensar no procedimento necroscópico, e principalmente sabendo que isso não trará o seu amigo de volta. Porém, é importante sabermos que, se não podemos ter nosso amigo de volta, é possível auxiliar outros animais a partir do momento que entendemos melhor a evolução de uma doença” esclarece Dra Lilian.

Apesar de um tema denso, é importante falarmos sobre. Talvez a cura do seu filhote, esteja nas patas de um outro que acaba de falecer. Incentive a pesquisa. Se for solicitado, autorize a necropsia do seu animal. É para o bem da medicina veterinária e de todos os animais que ainda teremos.

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